Existem filmes que mudam a gente de alguma forma, não por cinco minutos, não por 5 dias, mas mudam a maneira como vemos a vida.
Jack têm cinco anos, cinco anos, criado em cativeiro, sem saber que o mundo existe, sua mãe foi sequestrada com 17 anos e dois anos depois teve Jack nesse pequeno quarto, ela optou por não contar para ele que o mundo existia e que as coisas que eles viam na televisão era um mundo paralelo. Cansada de viver em cativeiro, Joy bola um plano para tentar sair do quarto, pois não aguenta mais essa vida horrível.
Lenny Abrahamson é o diretor e realiza um trabalho magnifico, afinal, filmar em um único cômodo e manter um ritmo bom não é algo muito fácil (Enterrado Vivo também consegue um bom resultado), mas ele filma de maneira única, coloca todos os espectadores totalmente dentro do quarto, ele filme na cara de Jack e de Joy, literalmente, ele coloca a câmera bem perto dos rostos dos protagonistas, já que as emoções deles são fundamentais nos dois primeiros atos, para que haja um vínculo entre quem assiste e os personagens. Aliás a fotografia é muito linda, muito linda mesmo. toda a paleta de cores do quarto é bem escolhida, os closes no Jack e na Joy, todas as escolhas foram bem feitas.
O Quarto de Jack é baseado em um livro homônimo que foi adaptado pela própria autora (nos recentes Garota Exemplar e Eu, Você e a Garota que vai Morrer também são os autores que escrevem o roteiro) e é muito bem escrito. Emma adaptou de maneira muito bonita, tudo passado pelos olhos de Jack, os dois primeiros atos são incríveis, como que a relação de Jack e Joy é construída e o quanto o roteiro ajudou nisso, Emma acerta em cheio e faz valer sua indicação ao Oscar. Eu li em algum lugar que O Quarto de Jack é um filme de atuação, embora as performances sejam fundamentais, o roteiro exerce um papel ainda maior aqui, Emma encerra o filme com chave de ouro, é natural o modo que Jack gosta de algo que é o pior pesadelo de Joy.
Emma acerta em cheio em vários aspectos, seu roteiro tem um tema muito pesado, mas ela leva isso com sutileza, como tudo é passado através dos olhos de Jack, não é um roteiro denso, mesmo que seja forte, principalmente quando eles começam a colocar o plano em ação, que tem o suspense, são uns minutos que se tornam horas e nos prende muito bem. Não vou falar muito sobre as reviravoltas que o roteiro tem, não quero dar spoilers, mas ele é realmente muito bem adaptado.
Jacob Tremblay (que tinha entre sete e oito anos quando o filme foi lançado) é uma força da natureza, é incrível como ele consegue atuar bem, ele é o protagonista absoluto, o filme todo é passado através do que ele sabe sobre o mundo e não erra. É a melhor performance masculina do ano, sim, ele supera todos os atores da temporada, eu sou contra crianças vencerem o Oscar, mas nesse caso, me inclinaria para indicar ele. Ele tem carga dramática, ele tem uma relação muito forte com a Brie Larson e que funciona muito em cena, quando o filme dá a guinada, lá na metade, a performance é fundamental para que o filme funcione e ele consegue acertar em cheio. Brie Larson, que vai ganhar o Oscar, constrói uma personagem sólida, que além de ter uma carga dramática muito forte, lida muito bem com todas as nuances da sua personagem, desde a primeira cena até a última, Brie mantém um nível de atuação excelente e se junta a Natalie Portman (Cisne Negro) e a Cate Blanchett (Blue Jasmine) com as melhores performances femininas da década. O elenco de apoio todo está bem também e vale destacar Joan Allen, a veterana dá um show interpretando a mãe de Joy.
O Quanto de Jack tem um dos menores orçamentos entre os oito indicados, mas seus U$ 13.000.000,00 valem ouro, com um roteiro excelente, performances ótimas e uma direção bem aplicada, se firma como o segundo melhor filme da temporada.
5/5
94% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
85/100 no MettaCritic