segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Review: Fala Comigo



Fala Comigo (2017)

Se tem um gênero nacional que sempre consegue destaque é o drama, sempre com críticas interessantes e ótimas atuações, os dramas brasileiros se sobressaem a outros gêneros do nosso cinema, mas em Fala Comigo, por mais que os atores entreguem ótimos trabalhos, o roteiro mal escrito e superficial estraga qualquer chance do filme ter um resultado positivo.

Diogo (Tom Karabachian) é um garoto de 17 anos que está no auge da adolescência, descobrindo sua sexualidade e amadurecendo. Com fetiche sexual incomum, ele liga para as pacientes de sua mãe (Denise Fraga) e se masturba ao ouvir elas falarem. Após algumas ligações, ele se envolve com Ângela (Karine Teles), uma mulher de 43 anos que tem histórico depressivo e está enfrentando um divórcio complicado.


Felipe Sholl dirige e roteiriza o filme. Como um diretor estreante, Felipe se sai bem na parte de direção do elenco, todos estão muito bem escalados em seus papéis, a química entre Karine Teles e Tom Karabachian é fora do normal, mas a impressão que fica é que os atores se saem bem por mérito próprio, já que o roteiro é péssimo. Felipe também deixa claro que está começando ao dar uns closes estranhos nos atores, em um dos embates de Karine Teles com  Denise Fraga, enquanto uma fala, ele filma a reação da outra, deve ter sido proposital, mas ficou bem estranho. Era para ser um dos ápices do filme, já que as duas estão ótimas e nesse embate, há até um bom diálogo, mas Felipe não filma bem. Além disso, Felipe não imprime personalidade nenhuma em sua direção, tudo parece ser mais do mesmo.



O roteiro de Fala Comigo é o grande caos aqui. Ele pincela em vários temas interessantes como adolescência propriamente dita, depressão, casamentos fracassados e sexualidade, mas não se aprofunda de fato em nenhum. Deixa tudo no ar, com diálogos péssimos e dependendo apenas das ótimas performances que o filme tem. E a impressão de história clichê permeia o filme inteiro, a típica família de classe média, os pais que não se comunicam direito com os filhos, os problemas da adolescência. Já vimos isso várias outras vezes no cinema brasileiro.


Em Moonlight a gente vê algo parecido acontecendo, o filme acontece graças ao elenco, várias atuações ótimas, mas mesmo com poucos diálogos, o roteiro é bem escrito e o filme é bem desenvolvido. Em Fala Comigo, o pouco da história que se é desenvolvida, também é mérito dos atores, que mesmo com um roteiro mal escrito, conseguem se sobressair.

Vamos ao melhor do filme, o elenco. Tom Karabachian faz um trabalho incrível, embora seu personagem não exija muitos picos dramáticos e nem cenas muito difíceis, ele tem um carisma fora do normal, a gente realmente acompanha o filme por conta dele, ele gera uma empatia com o público que é imediata. muito do que acontece de bom no filme é de responsabilidade dele, a relação dele com a irmã mais nova é muito interessante e a química que ele tem com a Karine Teles (ainda que de imediato a gente pense que eles não tem nada a ver) é de encher o coração. Karine Teles é uma atriz ótima e seus papéis sempre são interessantes, sua personagem é um turbilhão de emoções e Karine dá conta de todas elas. Nos momentos melancólicos, dramáticos, pesados, ela mostra que mesmo o filme não sendo bom, o prêmio de atriz que venceu ano passado no Festival do Rio é merecidíssmo. Denise Fraga tem um papel difícil para fazer, talvez seja a mais prejudicada pelo roteiro, mas ainda sim entrega um bom papel.


Infelizmente, Fala Comigo desperdiça um elenco de primeira por ter um roteiro tão mal escrito, com péssimos diálogos e que não se aprofunda nos temas interessantes que o filme tem. Ficaremos de olho no estreante Tom Karabachian, que segurou boa parte do filme nas costas.

2.0/5



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