Review: Ao Cair da Noite

Ao Cair da Noite (It Comes at Night - 2017)

Clímax é uma palavra importantíssima em qualquer filme, se for um filme de suspense então, ele é fundamental, inclusive podemos analisar os sucessos recentes desse gênero que podem ter sua aprovação com os críticos creditada por esse fator. A Bruxa, Corrente do Mal e Corra, todos filmes independentes que ganharam destaque por remar na contra-mão dos filmes de terror/suspense que o cinema americano vem fazendo. Ao Cair da Noite surpreende por ter uma atmosfera tensa e conseguir te prender até o final na pontinha da cadeira.

Em um provável futuro apocalíptico, uma família vive isolada em sua casa, com algumas regras para sair e buscar água e lenha, entre elas, só sair durante o dia. Após a morte de um dos membros da família, um homem invade a casa em busca de ajuda e a história começa a se desenvolver daí.

É importante deixar claro que Ao Cair da Noite foge dos clichês do gênero e de sustos fáceis e manjados, embora seu material de divulgação não venda isso, ele é um terror psicológico, a tensão e o medo são trabalhados lentamente no desenvolvimento dos personagens, na fotografia e na trilha sonora. Aos poucos a atmosfera densa do filme vai ganhando forma e isso é  muito bem construído por todos os elementos técnicos do filme.

Trey Edward Shults dirige e roteiriza o filme e consegue fazer um ótimo trabalho nas duas funções. Sua direção é cheia de personalidade e com vários detalhes técnicos bem encaixados. Trey cria uma história que te coloca para pensar o tempo todo, ele deixa várias questões abertas para interpretação própria e exige do público um pouco de atenção, já que Ao Cair da Noite contém alguns detalhes importantes são fundamentais para encaixar o quebra-cabeças bem criado por Shults. Sua direção, embora seja quase de um estreante, transborda confiança e vários movimentos de câmeras assertivos. Cenas muito bem filmadas na floresta, com a casa sendo bem explorada, nos closes milimetricamente calculados ou nos movimentos circulares que ele faz em alguns momentos, mostram que o cineasta sabe exatamente o que está fazendo.

O terror psicológico além de ser difícil de fazer, por exigir vários aspectos técnicos perfeitos e muitos detalhes na trama, costuma não agradar muito o grande público, por serem mais imprevisíveis e exigir um pouco mais de atenção. Provavelmente, se você gosta de um ou dois sub-gêneros específicos do terror, você vai estranhar, mas é impossível não se envolver com a história e os personagens.

Joel Edgerton faz o patriarca da família, sua performance é bem contida, seu personagem é um pouco ambíguo e tem todo um mistério que o envolve, mas é uma ótima performance. Carmen Ejogo entrega um trabalho bem dramático, sua personagem não tem muito para onde crescer, mas nas poucas cenas que ela tem destaque, ela consegue se sobressair bem. Kevin Harrison Jr. é quem tem a melhor atuação do filme, seu personagem está passando pelos problemas clássicos da adolescência, desejos sexuais, rebeldia, dúvidas constantes, passa muito bem pelo processo de luto que ocorre no começo do filme, que aliás, é todo visto dos olhos dele, ele representa o telespectador e entrega uma performance completamente humana. Ele passa bem pelos momentos dramáticos, tem carisma,  consegue segurar bem o filme e é uma grata surpresa. Riley Keough e Christopher Abbott fazem o casal de "estranhos" que entram na história depois. Ambos estão bem, mas Riley tem pouco tempo em tela, mais uma personagem feminina mal aproveitada.

Ao Cair da Noite é um ótimo filme, tecnicamente impecável, cheio de detalhes e mistérios que merecem a nossa atenção, de quebra, ainda traz uma ótima performance do Kevin Harrison Jr

5.0/5

89% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
78/100 no MettaCritic.