terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Review: Extradiordinário


Extraordinário (Wonder - 2017)

Extraordinário tem uma premissa batida e o clímax do trailer dava a entender que seria mais um filme genérico sobre bullying, pois bem, que trailer mais sem vergonha não? Por um lado foi bom, pois o filme supre todas as expectativas, com destaque para um roteiro amarradinho, atuações impecáveis e um tom dramático equilibrado.

Auggie (Jacob Trembley) é um garoto que nasceu com alguns problemas de saúde, além de uma deformação facial. Até os 10 anos, sua mãe (Julia Roberts) educou ele em casa, mas agora no ginásio, ela acha melhor ele ir para uma escola e interagir com outras crianças. 



A direção de Stephen Chbosky não ousa muito nas escolhas técnicas, mas acerta em cheio na direção dos atores, principalmente no núcleo infantil/adolescente. Óbvio que uma atriz do porte de Julia Roberts não precisa tanto de uma direção mais contundente, mas se formos pensar, o elenco mais novo do filme é inexperiente e nenhum ator deixou a peteca cair, até os que tem cenas menores conseguem se sobressair.



O tom do filme é o que mais surpreende, ele poderia ser exageradamente melodramático e cair nos clichês do gênero facilmente, felizmente isso não acontece, pelo ao contrário, o que vimos em tela é um drama equilibrado, que consegue arrancar leves sorrisos em meio as lágrimas.

O roteiro é excelente, ele consegue mesclar bem o drama de Auggie com a vida dos personagens secundários, quando o filme foca na vida de Via ou de Miranda, não deixa o ritmo ficar cansativo, já que as histórias são interessantes e a maioria dos personagens são bem desenvolvidos. A cena da Via com a sua avó na praia é tocante (Sônia Braga consegue mostrar seu talento em apenas uma cena), ela serve para dar profundidade na personagem da Via e tira um pouco do foco na vida de Auggie. Outro ponto positivo do roteiro é construir personagens sem esteriótipos gritantes, todo mundo ali têm defeitos e qualidades, até mesmo os supostos vilões têm qualidades e elas são transmitidas durante o filme, a Miranda é um ótimo exemplo disso, à primeira vista, fazemos um pré julgamento sobre ela e depois que sua personagem tem espaço, percebemos que ela só é um ser humano comum, com pontos positivos e negativos.


Em Extraordinário, os elementos nostálgicos são inseridos de maneira sutil, até mesmo as referências a Star Wars são bem aproveitadas e combinam muito com a personalidade de Auggie. As cenas na escola de Auggie ou de Via nos transportam para a pré-adolescência imediatamente, há várias sementes reflexivas que são deixadas no ar ao longo do filme. A verdade é que todo mundo já praticou ou já sofreu bullying e o filme trata isso de maneira responsável.


O elenco é excelente. Jacob Tremblay quebra aquele fantasma de atores infantis que entregam uma performance boa e depois somem (assistam O Quarto de Jack e se impressionem com o talento esse garoto), ele constrói um Auggie complexo, cheio de camadas, mas que gera empatia com o público e que consegue emocionar facilmente. Mesmo com suas expressões limitadas pela maquiagem e pelas próteses, Jacob tem uma carga dramática forte, nos levando ao choro mais de uma vez em seus desabafos, é comovente. Julia Roberts convence como mãe, ela consegue ir do melancólico a alegria em segundos, aquele famoso sorriso dá o ar da graça e ilumina a tela algumas vezes. Sua relação com Auggie é muito bonita e o roteiro explora muito bem isso. Owen Wilson é usado como alívio cômico e funciona muito bem, ele arranca risadas do público em vários momentos, mas seu personagem não tem muita profundidade dramática e ele acaba ficando igual a vários outros filmes que ele já fez. Izabela Vidovic (Via) também se sai muito bem, sua personagem cresce com o filme e ela consegue lidar bem com os problemas da adolescência, com os fardos que carrega com a falta de atenção do seus pais, com a amiga que a abandonou e com a morte de sua vó, sem nunca descontar no irmão, Vidovic cria uma Via cheia de nuances e mostra que tem talento de sobra. O restante do elenco é ótimo e eu só queria um espaço maior para Danielle Rose Russell, já que em duas ou três cenas que sua personagem tem destaque, ela manda muito bem.


Extraordinário pode não ser extremante inovador e nem ter elementos técnicos ousados e perfeitos, mas é um filme que explora muito bem o bullying, com um roteiro excelente e performances memoráveis. Jacob Trembley é uma força da natureza e acompanhar seu trabalho daqui para frente, vai ser extramente prazeroso. 

5.0/5

86% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
68/100 no Mettacritic





Nenhum comentário:

Postar um comentário