Os filmes sobre amadurecimento jovem, os chamados "Coming of Age", estão em uma ótima fase. Recentemente tivemos Me Chame Pelo Seu Nome e Lady Bird indicados na categoria principal do Oscar representando esse sub-gênero muito bem e agora, bem no começo do ano, temos mais um filme ótimo sobre amadurecimento.
Simon é um garoto comum do Ensino Médio que está descobrindo sua sexualidade. Ele tem uma família estruturada, amigos legais e é inteligente, mas esconde um segredo de todos, ele é gay. Ao começar uma conversa com um também gay não assumido por e-mail, ele se apaixona, mas se vê ameaçado quando um de seus colegas lê os e-mails e começa a chantageá-lo.
O roteiro parece que foi escrito pelo John Green, já que há uma comunicação com o público jovem impecável. Isaac Aptaker e Elizabeth Berger (a segunda, mais famosa por escrever a série This Is Us), conseguem dialogar com adolescentes tão naturalmente que deixa fácil para os atores brilharem. Outro acerto do roteiro é não construir esteriótipos, todos ali cometem erros e acertos, o que torna mais fácil a identificação com o elenco e a conexão que a gente cria com o Simon, que ao longo do filme comete atitudes questionáveis, ainda que por motivos válidos.
Embora o filme seja classificado como uma comédia romântica, há arcos dramáticos presentes e que em alguns momentos são interrompidos por piadas desnecessárias. Muito do humor do filme funciona e em vários momentos gargalhadas espontâneas serão dadas, mas há um alívio cômico específico que quase nunca funciona e que em alguns momentos mais profundos, te tira completamente do clímax dramático.
Se a dinâmica com os amigos e o distanciamento com a família, ainda que haja uma relação amorosa e feliz forte, são tratados de maneira assertiva pelo roteiro, a parte amorosa de Simon não é bem construída. Ansiedade, medo, vontade, tudo é sentido por Simon, de maneira modesta, mas é sentido, só que na hora que há uma finalização desse arco romântico, o diretor falha e o roteiro também. Passamos o filme todo pensando em que é o tal Blue e não presos ao sentimento que o Simon criou a ele e a cena da roda gigante é sofrível.
O diretor Greg Berlanti já havia feito um bom trabalho na comédia romântica Juntos Pelo Acaso, aqui em Com Amor, Simon, ele acerta mais ainda. Sua direção não é daquelas cheia de personalidade, com muitos detalhes, mas ele consegue extrair o melhor dos atores e conduz muito bem todas as cenas.
A principal qualidade do filme é trazer aquela fórmula clichê para um protagonista gay, o que quase nunca acontece em filmes dessa temática e fazer com que a gente se envolva completamente com a trama do filme. Em vários momentos nos pegamos apreensivos, dando gargalhadas, ou ficando tristes com os personagens e essa forma de falar com os jovens de maneira tão realista é muito rara em comédias românticas.
O elenco consegue surpreender em vários aspectos. Nick Robinson tem carisma de sobra e consegue ir crescendo ao longo do filme, no começo, parecia que ele não ia conseguir dar conta do personagem, mas ele evolui durante o próprio filme e quando chega no final, criamos um vínculo quase que inseparável com o Simon que ele construiu. Katherine Langford já tinha se provado uma ótima atriz em 13 Reasons Why e aqui não se mostra diferente, a química que ela tem com Nick é enorme e mesmo sua personagem não sendo bem desenvolvida, ela consegue fazer um ótimo trabalho. Jennifer Garner e Josh Duhamel são os pais de Nick e eles também não tem muito tempo em tela, mas embora não surpreendam, também não comprometem o filme. Logan Miller surpreende com o antagonista Martin, ele cativa aos poucos e mesmo com seus erros, gera empatia. Talitha Bateman, que faz a irmã de Simon, tem uma cena de cortar o coração e se mostra uma ótima atriz, ela tem carga dramática, carisma e é uma pena ter um espaço pequeno. Talvez a melhor coadjuvante do filme, já que rouba a cena toda hora, Natasha Rothwell nos faz gargalhar TODAS as vezes que aparece, fiquei curioso para ver mais trabalhos da atriz.
Com Amor, Simon têm alguns erros, mas acerta na forma como fala com os jovens, nos personagens reais que constrói e principalmente, em envolver o público de maneira instantânea.
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