segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Review: Um Momento Pode Mudar Tudo

Um Momento Pode Mudar Tudo (You're Not You - 2014)

Talvez uma das experiências mais agradáveis que o cinema nos proporciona é ver um filme sem nenhuma expectativa e sair contente de uma sala de cinema (ou da sala de casa mesmo)

Um Momento Pode Mudar Tudo é um drama estadunidense que parece ser uma versão feminina de Os Intocáveis, mas mesmo com as semelhanças, o longa têm suas diferenças, os toques de comédia são menores, o filme acaba sendo mais dramático e Hilary Swank é um monstro em cena.

Kate é uma pianista e design bem sucedida, que é diagnosticada com uma doença degenerativa, a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que é fatal e só piora como passar do tempo, com tudo, Kate não quer ser tratada como uma paciente comum e contrata e jovem Bec, que não tem muita noção de responsabilidade. As duas são os opostos, mas com o tempo aprendem que mesmo com suas diferenças, podem se tornar grandes amigas.



O diretor é o Gerorge C. Wolfe, ele é mais conhecido por seu extenso trabalho na Broadway, onde produziu e dirigiu diversos sucessos, entre eles, The Normal Heart, Angels in America: Perestroika e Th Wild Party. Um Momento Pode Mudar tudo é seu segundo longa e já é incrivelmente melhor que o primeiro, o fraco Noites de Tormenta.

O filme tem uma introdução péssima aos personagens, o primeiro ato é terrivelmente ruim, eu pensei que viria um enorme bomba por aí, a Bec é super exagerada, parece que fizeram questão demostrar que ela é desajeitada, sem nenhuma sutileza, mas depois dos 25 minutos e filme engata e começa a tomar um ritmo melhor. Os personagens começam a se desenvolver e nós começamos a ter apego neles, principalmente na Kate, conforme a doença vai avançando, Kate consegue cativar ainda mais, muito isso se deve a performance excelente da Hilary, claro.



O roteiro têm suas falhas, principalmente no começo do filme, depois ele começa a ficar mais redondinho e ajuda no desenvolvimento do filme. Um dos defeitos do roteiro (talvez da trama, em si) é que é previsível, uma surpresa ou outra, mas logo no começo do filme, já sabemos que rumo a história vai tomar. Os diálogos não são massantes, mas também não são enxutos, falta um pouco de síntese, mas nada prejudicial. O principal foco do roteiro é a relação da Bec com a Kate, até o Evan fica um pouco de lado, mas aos poucos vamos conhecendo melhor a história de Bec e entendendo melhor o que a levou ser tão rebelde.

A trilha é outro ponto alto do filme. é sutil, é bonita e nas cenas finais é fundamental para que o drama aconteça de forma convincente.

O elenco está ótimo, Hilary Swank trabalha como ninguém, não consigo imaginar nenhuma outra atriz que faça esse trabalho físico tão bem feito, ela faz todo um trabalho com a voz , é impecável, nas cenas de drama também mostra que não é por acaso que já tem dois Oscars em sua estante. Emmy Rossum não fica atrás como a rebelde Bec, sua performance cresce junto com o filme, nas cenas finais ela está soberba, certamente Hilary e Emmy estão melhores que algumas atrizes que foram indicadas ao Oscar em 2014/2015. Até o Josh Duhamel que não costuma estar razoável, aqui mostra um bom trabalho. O elenco secundário poderia ser mais aproveitado, principalmente Loretta Devine,que nos poucos momentos que aparece, dá um show.



You're Not You não reinventa um gênero, ele usa de elementos clichês em sua narrativa e nos remete muito ao excelente Os Intocáveis, mas ainda sim consegue ser bom, seu melodrama é bem construído e junto as as performances brilhantes de Hilary e Emmy, nos comove.

4.0/5

40% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
56/100 no Mettacriti





quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Review: A Pequena Miss Sunshine

A Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine - 2006)

A Pequena Miss Sunshine é um "dramédia" estadunidense que dá certo em todos os sentidos.

Olive é uma garotinha fofa que sonha em ser miss, ela finalmente se classifica para o concurso "A Pequena Miss Sunshine" e leva a família toda durante uma viagem maluca para chegar até o concurso. O chefe da família, Richard, vende um programa de motivação, inflando sempre as etapas para ser um vencedor, mesmo ele sendo um fracassado. Seu pai, Edwin, foi expulso de uma casa de repouso por usar heroína, mas mesmo com seus defeitos, ama a neta e à treinou todos os dias para o concurso. Sheryl é a esposa de Richard, ela é uma ótima mãe de família e uma ótima esposa, mas fuma compulsivamente e esconde o vício da família. Seu irmão Frank é um homossexual frustrado, que tenta o suicídio e ate nisso fracassou. O irmão de Olive é o Dwayne, que se alistou na escola de aviação e até alcançar seu objetivo, fez voto de silêncio. Imagina todas essas pessoas atravessando o estado com uma combe precária? Pois é, confusões na certa.



A dupla de diretores Jonathan Dauton e Valerie Faris fazem uma ótima estréia na direção desse drama independente, que conquistou a crítica e o público. A direção realiza um ótimo trabalho, além de dirigir muito bem o elenco, mantém um ritmo muito bom de filme, apresenta bem os personagens e seus problemas e depois consegue ter um desenvolvimento de personagens ótimo. Também consegue acertar em cheio na escolha das câmeras, os closes são inteligentes e potencializam ainda mais as performances. A fotografia em si é bem bonita, nas cenas na estrada, quando eles saem da combe para comer, ou algo do tipo, o plano se abre e é lindo de se ver.

Nesse filme têm dois pontos que são os destaques: o elenco e o roteiro.

O roteirista também é estreante, Michael Arndt, que venceu o Oscar de roteiro original pelo excelente trabalho que realizou aqui. O roteiro é excelente, ele é objetivo, diálogos enxutos e claro, um prato cheio para o elenco dar boas performances.

A história de "a família disfuncional, cheia de problemas que se veem ali, encurralados, na obrigação de resolver suas diferenças" pode até parecer clichê, mas não é. As situações cômicas que a família vai enfrentando ao longo do filme são hilárias, as vezes pela combe precária, as vezes pelas relações conturbadas, o filme consegue se equilibrar entre a comédia e o drama, tendendo mais para o cômico.

Como eu disse, o elenco é outro ponto forte do filme, óbvio que bem sustentados por um roteiro incrível, mas mesmo assim os atores estão de parabéns.

O elenco é impecável e as melhores performances são dos dois caçulas do filme. Abigail Breslin, faz a adorável Olive, que é esperta e compreende bem os problemas familiares que existem em sua casa, Abigail além de ser carismática, mostra a força de sua atuação em uma cena com o Dwayne, onde ela dá apoio ao menino, uma coisa linda de se ver. Paul Dano faz uma performance incrível, mesmo que sem falas, ela se entrega ao papel e até merecia mais a indicação ao Oscar que o Alan Arkin recebeu. Alan faz o Edwin, um senhor usuário de heroína, machista, mas que ama sua neta, ficando mais para o lado da comédia, Alan chega a ser hilário em algumas partes. Steve Carell está em um de seus papéis mais dramáticos, bem diferente do que costumamos ver, Carell trabalha sutilmente, as emoções que seu personagem tem são passadas só com as feições. O resto do elenco entrega um bom trabalho também.

A Pequena Miss Sunshine é um exemplo clássico de um filme que dá certo, é engraçado, tem bons personagens e um roteiro incrível, sem citar aquela cena final épica.

5/5

91% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
80/100 no Mettacritic


                                                        Uma das cenas mais bonitas do filme.

domingo, 11 de outubro de 2015

Review: Que Horas Ela Volta?

Que Horas Ela Volta (2015)

Desde Cidade de Deus, um filme brasileiro não era tão elogiado na crítica internacional. Vencedor de prêmios em alguns dos maiores festivais do mundo (Sundance e Berlim) Que Horas Ela Volta? é um forte candidato a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e até está cotado para vencer o prêmio.

Val é uma pernambucana que veio para São Paulo para tentar uma vida melhor, ela trabalha de empregada na casa de uma família de classe média alta. Val deixou sua filha Camila no nordeste e ficou anos sem vê-la, apenas mandando dinheiro para seus estudos. Anos depois, Camila vem para São Paulo, para prestar vestibular, causando um reboliço na vida de todos.



Regina definiu o filme em uma entrevista dizendo que ele é visto da cozinha para a sala e não dá sala para a cozinha, e mesmo que isso já tenha sido feito antes, essa definição é perfeita para o filme.

Anna Muylaert construiu uma obra-prima que é com certeza o filme de sua vida, ela é a roteirista e diretora do longa que faz críticas sociais, que mesmo feitas de maneiras sutis, causam um impacto imediato no telespectador. A verdade é que as vezes não percebemos o quanto as empregadas e babás são importantes nas nossas vidas.

O roteiro consegue fazer bem seu trabalho, o embate das classes sociais fica evidente a todo momento. A família típica de classe média alta é totalmente desunida, a relação conjugal do Carlos com a Bárbara é estranha e a relação deles com o filho é ainda pior, o que torna a família totalmente dependente da Val. A relação que a Val tem com o Fabinho é tão bonita, a construção disso tudo, é linda sabe? Fabinho sempre prefere o colo da Val em vez do colo da mãe e a cena final que os dois tem é perfeita.

A fotografia é completamente linda, é básica, mas é perfeita, são poucas cores vivas dentro da casa, o filme é todo escuro e meio denso. Quando é mostrada a sala vista da cozinha, claramente há algo ali para se observar, como Regina mesmo disse, esse filme é para ser visto com uma ótica diferente. As cores mais vivas sempre estão fora da casa e fora daquele ambiente familiar desagradável.

O ritmo do filme é ótimo, se você está acostumado com os dramas hollywoodianos, provavelmente não vai gostar, pois não tem grandes acontecimentos ou grandes soluções para os problemas aqui, é mais parecido com os dramas europeus, é algo sobre a vida como ela é, simples assim.

As performances são um show à parte, Regina Casé constrói uma Val na medida, uma nordestina forte, mas que não é aquele esteriótipo de nordestina que estamos acostumados a ver, a maioria das vezes, Val passa apenas com o olhar o que está sentindo, é delicada sabe? Regina acertou em cheio aqui. Camila Márdila também acertou em cheio em sua Jéssica desbocada e atirada, ela não se contém com seu papel na sociedade e quer sempre mais, ela é fundamental para que fique claro a diferença entre as classes sociais e sua relação com a Val é o nos deixa vidrados no filme. Karine Teles é uma (quase) antagonista aqui, faz um ótimo trabalho, Barbara é um pouco megera da metade para o final do filme, e Teles consegue retratar bem as "madames" que temos na nossa classe média afetada. Lourenlo Mutarelli faz um artista frustrado, que mesmo com dinheiro parece ser infeliz, quando seu personagem finalmente cresce e ele toma coragem, o filme chega perto do fim (coitado). Por fim temos o Michel Joelsas, que mesmo sem ter muito espaço, consegue se sair bem, na cena que ele tem uma carga dramática um pouco maior, o menino dá conta do recado.

Não espere acontecimentos grandes, Que Horas Ela Volta? é um filme sobre a relação das empregadas com seus patrões, é bem feito, sútil e um drama excepcional.

5/5

95% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
82/100 no Mettacritic












terça-feira, 6 de outubro de 2015

Review: Vai que Cola - O Filme

Vai que Cola - O Filme (2014)

As comédias brasileiras tem conquistado um enorme espaço entre o público, são acessíveis, de fácil compreensão e com rostos conhecidos no elenco.

A famosa pensão da Dona Jô foi interditada pela vigilância sanitária na mesma semana em que Valdo recupera seu apartamento no Leblon (olha que coincidência né?) e Valdo de bom grado, leva todos para seu apartamento,gerando assim um embate de realidades sociais.




O diretor é o César Rodrigues, que também dirige o seriado, não conheço muito do seu trabalho, mas os dois filmes dele que eu assisti são péssimos (Sexo, Amor e Traição e High School Musical - O Desafio), mas aqui, consegue um trabalho ainda melhor que na série. Óbvio que ele deixa o elenco bem solto, para improvisações, assim como na maioria das comédias brasileiras, mas ainda sim ele dirige todo mundo muito bem.

O roteiro é bom, achei a ideia de fazer o filme fora da pensão da Dona Jô ótima, assim dá um ar novo pro filme e cria situações inéditas para os personagens, o roteiro é totalmente despretensioso e consegue dar ao público um entretenimento que mesmo não sendo o mais inteligente do mundo, convence.

A Quebra da quarta parede é usada praticamente o tempo todo, muito mais que na série , isso deixa o público completamente envolvido com o filme, familiarizado ainda mais com aqueles personagens que a gente já conhece. Não é sempre que eu acho esse recurso necessário, mas aqui é genial, combinado com o jeito mau-humorado do Valdo, não tem como não gostar, César  realmente acertou em cheio.

O elenco é excelente, todos estão muito bem fazendo comédia, o roteiro não exigiu de ninguém nada que fosse além da comédia, pura e simples, seja nas palavras erradas de Maycon, nas caras e bocas da Jessica ou nas loucuras do Ferdinando, todos sempre brincando com os próprios defeitos físicos e suas condições sociais, mais uma qualidade de Vai Que Cola, eles não se levam a sério e com isso conseguem rir de si mesmos, todos estão em seus melhores momentos, até a Tcheca está engraçadinha, embora seja totalmente desnecessária aqui e na série.

Paulo Gustavo é o nome do Filme, por mais que o elenco de apoio seja extremamente competente, ele carrega nas costas e com maestria. sabe quando um ator chega no seu ápice? Então, Paulo nunca esteve tão engraçado, as tiradas que ele tem são hilárias, e todo o bullying que ele propaga é saudável e engraçado.

Como eu já disse anteriormente, o elenco de apoio está muito bom e o melhor coadjuvante do filme é o Marcus Majella, que consegue entrar no personagem de uma forma que não separamos o ator do Ferdinando. Samantha Schmutz usa e abusa do seu famoso carisma, ela não faz piadas escrachadas e nem tem tiradas geniais, mas suas caras e bocas são impagáveis. Cacau Protásio é outro nome que nos surge a cabeça nesse filme, acho ela bem oscilante na série, as vezes engraçada, as vezes não, mas no filme ela consegue acertar na dose do humor e se sobressai. O resto do elenco é bem competente.

Talvez um dos poucos defeitos que o filme carrega é que os novos personagens não são bem inseridos no filme, não há um desenvolvimento legal para eles, aquele final para o personagem do Oscar Magrini é deprimente.

Eu nunca pensei que iria elogiar tanto um filme nacional desse gênero, já que cada vez mais as fórmulas de comédias brasileiras estão tediosas, mas diferentemente do Minha Mãe É Uma Peça, Meu passado me Condena e Superpai, o filme tem um ritmo bom, acerta na dosagem da comédia e tem um protagonista que bota qualquer um no chão, de tanto rir.

4.5/5