domingo, 11 de outubro de 2015

Review: Que Horas Ela Volta?

Que Horas Ela Volta (2015)

Desde Cidade de Deus, um filme brasileiro não era tão elogiado na crítica internacional. Vencedor de prêmios em alguns dos maiores festivais do mundo (Sundance e Berlim) Que Horas Ela Volta? é um forte candidato a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e até está cotado para vencer o prêmio.

Val é uma pernambucana que veio para São Paulo para tentar uma vida melhor, ela trabalha de empregada na casa de uma família de classe média alta. Val deixou sua filha Camila no nordeste e ficou anos sem vê-la, apenas mandando dinheiro para seus estudos. Anos depois, Camila vem para São Paulo, para prestar vestibular, causando um reboliço na vida de todos.



Regina definiu o filme em uma entrevista dizendo que ele é visto da cozinha para a sala e não dá sala para a cozinha, e mesmo que isso já tenha sido feito antes, essa definição é perfeita para o filme.

Anna Muylaert construiu uma obra-prima que é com certeza o filme de sua vida, ela é a roteirista e diretora do longa que faz críticas sociais, que mesmo feitas de maneiras sutis, causam um impacto imediato no telespectador. A verdade é que as vezes não percebemos o quanto as empregadas e babás são importantes nas nossas vidas.

O roteiro consegue fazer bem seu trabalho, o embate das classes sociais fica evidente a todo momento. A família típica de classe média alta é totalmente desunida, a relação conjugal do Carlos com a Bárbara é estranha e a relação deles com o filho é ainda pior, o que torna a família totalmente dependente da Val. A relação que a Val tem com o Fabinho é tão bonita, a construção disso tudo, é linda sabe? Fabinho sempre prefere o colo da Val em vez do colo da mãe e a cena final que os dois tem é perfeita.

A fotografia é completamente linda, é básica, mas é perfeita, são poucas cores vivas dentro da casa, o filme é todo escuro e meio denso. Quando é mostrada a sala vista da cozinha, claramente há algo ali para se observar, como Regina mesmo disse, esse filme é para ser visto com uma ótica diferente. As cores mais vivas sempre estão fora da casa e fora daquele ambiente familiar desagradável.

O ritmo do filme é ótimo, se você está acostumado com os dramas hollywoodianos, provavelmente não vai gostar, pois não tem grandes acontecimentos ou grandes soluções para os problemas aqui, é mais parecido com os dramas europeus, é algo sobre a vida como ela é, simples assim.

As performances são um show à parte, Regina Casé constrói uma Val na medida, uma nordestina forte, mas que não é aquele esteriótipo de nordestina que estamos acostumados a ver, a maioria das vezes, Val passa apenas com o olhar o que está sentindo, é delicada sabe? Regina acertou em cheio aqui. Camila Márdila também acertou em cheio em sua Jéssica desbocada e atirada, ela não se contém com seu papel na sociedade e quer sempre mais, ela é fundamental para que fique claro a diferença entre as classes sociais e sua relação com a Val é o nos deixa vidrados no filme. Karine Teles é uma (quase) antagonista aqui, faz um ótimo trabalho, Barbara é um pouco megera da metade para o final do filme, e Teles consegue retratar bem as "madames" que temos na nossa classe média afetada. Lourenlo Mutarelli faz um artista frustrado, que mesmo com dinheiro parece ser infeliz, quando seu personagem finalmente cresce e ele toma coragem, o filme chega perto do fim (coitado). Por fim temos o Michel Joelsas, que mesmo sem ter muito espaço, consegue se sair bem, na cena que ele tem uma carga dramática um pouco maior, o menino dá conta do recado.

Não espere acontecimentos grandes, Que Horas Ela Volta? é um filme sobre a relação das empregadas com seus patrões, é bem feito, sútil e um drama excepcional.

5/5

95% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
82/100 no Mettacritic












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