terça-feira, 15 de março de 2016

Review: A Garota Dinamarquesa

A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl - 2015)

Tom Hooper é um dos novos queridinhos da Academia, seus últimos filmes foram prestigiados no Oscar e de uma maneira bem exagerada, já que ele é um diretor super burocrático.

A Garota Dinamarquesa conta a história de Lili Elbe, pioneira no movimento transsexual e que se submeteu a fazer uma cirurgia de mudança de sexo nos anos 20.



A história acaba sendo muito mais sobre Gerda (esposa do Einar, que no decorrer do filme vai se transformando em Lili) do que sobre o Einar, uma escolha do diretor que eu considero bem equivocada, mesmo Alicia Vikander estando bem melhor que o Eddie no filme, o roteiro errou feio em focar no personagem errado.

Tom Hooper já tinha feito trabalhos duvidosos em O Discurso do Rei e em Os Miseráveis, seus filmes mais festejados nas premiações e que realmente não merecem esse "aue" todo, mesmo A Garota Dinamarquesa sendo um filme melhor do que os anteriores citados, Hooper exerce uma direção extremamente burocrática. Ele arrisca pouco, os retratos de Einar e de Lili poderiam ser muito mais explorados, com um ritmo melhor e outro foco no roteiro, essa necessidade de fazer um filme para a grande massa acaba tirando o brilho que o filme poderia ter.

Aliás, isso é bem recorrente nos filmes de Tom Hooper, esse bom mocismo exagerado, esse ritmo mais lento, que merece não engrenar, em O Discurso do Rei fica muito evidente isso, dormimos quase o filme inteiro.

Lucinda Coxon é a roteirista e ela faz um trabalho razoável, o roteiro acaba sendo um prato cheio para Alicia e para Eddie nos dois primeiros atos, mas acaba caindo um pouco no último ato, que é bem previsível e cansativo. Lucinda e Tom poderiam ter dado um pouco mais de espaço para a reação da sociedade ao ver Einar se transformar em Lili do que ter focado só na relação do casal e no impacto que a transformação trouxe para os dois, ainda que Alicia Vikander e Eddie Redmayne sejam ótimos atores e entreguem ótimas performances.

A fotografia é linda, Danny Cohen fotografa muito bem (também fez um ótimo trabalho em O Quarto de Jack), ele é bem sutil e nas horas mais cruciais para o elenco, ele acerta em cheio.



A trilha sonora fica por conta do experiente Alexandre Desplat, vencedor do Oscar por O Grande Hotel Budapeste e que realizou ótimos trabalhos em Philomena, O Fantástico Senhor Raposo, Harry Potter e as Relíquias da Morte e em tantos outros filmes. Desplat aerta novamente aqui, sua trilha é simples, mas bem assertiva e na cena final é ponto chave para que o filme encerre bem.

O figurino e a maquiagem também são ótimos.

Eddie Redmayne faz o papel principal e ele entrega um ótimo trabalho, ele se mostra bom nos dois papéis, seu método de atuação mais teatral funciona perfeitamente bem, Lili têm muitas nuances e Eddie passa por todas elas sem nenhum problema. Em A Teoria de Tudo, filme que rendeu o primeiro Oscar para o ator, ele tinha acertado muito na composição física de seu personagem e deixado um pouco à desejar na carga dramática, em A Garota Dinamarquesa, Eddie entrega um trabalho mais completo, acertando muito na carga dramática. Alicia Vikander consegue roubar a cena, do segundo ato em diante ela se consolida com uma das melhores protagonistas do ano (embora tenha levado o Oscar de atriz coadjuvante para casa). Alicia tem uma carga dramática forte e consegue ter um carisma bem acima da média também, um dos motivos do filme dar certo, em certo sentido, é Alicia. Guardem seu nome, pois ainda lerão muito sobre ela, pelo visto ela também estará no Oscar do ano que vem com The Light Between Oceans.



Alguns elementos técnicos e principalmente Alicia e Eddie se sobrepõe ao roteiro falho, e mesmo o filme terminando com uma cena belíssima, a sensação de "poderia ter sido mais", "poderia ter ido muito além" e "a história não foi tão bem contada" fica no ar.



3.0/5

70% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
66/100 no Mettacritic





quarta-feira, 9 de março de 2016

Review: A Bruxa

A Bruxa (The Witch -2015)

A Bruxa segue os caminhos que Corrente do Mal seguiu ano passado, foi lançado em festivais, arrancando elogios de todos os críticos e chegando ao circuito comercial já estabelecido como um ótimo filme do gênero (A Bruxa chega estabelecido por muitos como o maior filme de terror dos últimos anos), mas o que acontece aqui, é que Á Bruxa é um filme para poucos, infelizmente (ou não) os fãs de Atividade Paranormal, Annabelle e afins vão detestar.

Acontece que o filme é atmosférico, tem muito de drama também, no caso um drama familiar e isso geralmente não agrada o grande público, que em geral, vai ao cinema tomar sustos.

O filme se passa lá no século XVII, um casal com seus cinco filhos vivem juntos, com uma comunidade extremamente religiosa, isso não é mostrado muito no filme, logo no começo eles são banidos desse povoado e vão morar em uma fazenda, do lado de uma floresta, bem afastada da civilização e coisas bizarras começam à acontecer.



É difícil trazer ares novos para um gênero tão desgastado né? Uma vez ou outra vemos filmes que são bem feitos mesmo e que tragam algo de novo (Lê-se Corrente do Mal de novo), mas aqui vemos que Robert Eggers traz um suspiro aliviado pros fãs do gênero.

Eggers lutou muito para arrumar produtores para o filme, inclusive um dos produtores é brasileiro, mais um orgulho para o nosso país, que está cheio de gente boa trabalhando em Hollywood.

A Bruxa é o primeiro filme e o primeiro roteiro de Robert Eggers, como eu disse, ele passou vários anos na pré produção do filme, pesquisando contos, lendas, ou relatos sobre aquela época, onde as pessoas realmente acreditavam em bruxas, muito das falas dos personagens foram tiradas desses relatos. Eggers cria todo uma ambientação perfeita para que a história funcione, ele dirige o elenco perfeitamente bem, escreve todo o roteiro sozinho e mantém o clima e o suspense do primeiro ato até o minuto final do filme.



É um terror-arte, cheio de elementos técnicos impecáveis, como a fotografia desprovida de cores, sem aquela saturação toda, a ambientação também é ótima, dentro da casa deles, é escuro e claustrofóbico, algumas cenas você realmente se sente dentro da cabana. A trilha-sonora é sempre um ponto chave para filmes desse gênero e aqui ela é muito boa, nos momentos finais ela é crucial. Ponto para Mark Korven.

Com uma equipe técnica bem escalada, o elenco não poderia ser ruim né? Embora nenhum dos atores seja muito conhecido do grande público, todos fazem ótimos trabalhos. Anya Taylor-Joy faz a personagem principal, a filha mais velha, toda trama é centralizada nela e ela faz um ótimo papel, ela lida bem com as nuances que sua personagem passa durante o filme e nas cenas finais ela dá um show. Ralph Ineson interpreta o pai da família e ele também está excelente, o personagem é um religioso fanático que só enxerga o que quer. Kate Dickie interpreta a mãe e usa e abusa da sua carga dramática, com muita inteligência, claro. Harvey Scrimshaw interpreta o segundo filho mais velho, ele é esperto e tenta descobrir os mistérios que estão acontecimento na sua casa e na fazenda e também trabalha muito bem, principalmente nas cenas finais.



A Bruxa não é um filme perfeito, mas tem muitos pontos positivos, se o filme tivesse um ritmo um pouquinho mais rápido, seria excelente, mas ainda sim é um suspiro aliviado para o gênero, que anda tão desgastado e tão previsível



4.5/5

89% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
83/100 no Mettacritic






segunda-feira, 7 de março de 2016

Review: Spotlight: Segredos Revelados

Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight - 2015)

E chegamos à mais um vencedor do tão cobiçado Oscar de melhor filme e nessa corrida que foi tão imprevisível, Spotlight acabou sendo uma surpresa, já que só tinha vencido o prêmio de roteiro original.

Spotlight é um drama estadunidense, baseado em fatos, onde um grupo de jornalistas conhecido como Spotlight, pesquisam e reúnem dezenas de documentos que provam que vários padres abusaram de crianças e adolescentes. Todo filme é centralizado nessas investigações.



Embora todos adorem lembrar que Tom McCarthy dirigiu Trocando Os Pés, um filme do Adam Sandler que fracassou nas críticas e nas bilheterias, esquecem que ele já ganhou uma BAFTA e um Independent Spirit Awards como roteirista (O Agente da Estação), ganhou o prêmio de direção no Independent Spirit Awards (O Visitante) e foi indicado ao Oscar e à mais uma porrada de prêmios pelo ótimo roteiro de Up! Altas Aventuras. Ele é um ótimo diretor e um ótimo roteirista.

Mesmo eu não achando que à indicação dele como diretor foi merecida, o trabalho que ele realiza na direção é incrível, o filme têm mais de duas horas e mantém um ritmo excelente, é cada vez mais instigante e excitante, a cada novo caso descoberto a gente fica mais ansioso para o que vai acontecer. Isso se deve aos dois pontos mais altos do filme, O roteiro e o elenco.



O roteiro que Tom McCarthy escreveu em parceria com o Josh Singer é maravilhoso, ele é rápido, dinâmico e é fundamental para o filme ter esse ritmo tão incrível. O segundo e o terceiro ato são muito bons e até mesmo o primeiro ato que poderia ser cansativo pela introdução dos personagens ou pela investigação que demora um pouco a engrenar, mas mesmo nesse primeiro ato eles escrevem perfeitamente bem.

O filme não é inovador, esse talvez seja o seu principal problema, enquanto tinha concorrentes que transbordavam criatividade e inovação, ou no roteiro, ou na fotografia, ou nos efeitos visuais, Spotlight ficou com cara de telefilme, eu não acho que isso seja um problema muito grande, mas existiam filmes indicados que mereciam muito mais a vitória na categoria de filme.

O elenco é mais um ponto chave do filme, todos estão ótimos. Mark Ruffalo, Liev Schreiber e Stanley Tucci são incríveis e fazem ótimos papéis, são de longe os melhores do elenco, seguidos por Michael Keaton e Rachel McAdams que também fazem bons trabalhos. Rachel conseguiu sua primeira indicação ao Oscar, inclusive.



Spotlight termina com uma sensação de dever cumprido, um filme com começo, meio e fim, redondo, com um roteiro rápido e um elenco afiado, porém com filmes tão bons nessa temporada, que também fica uma sensação de falta de ousadia no filme.



4.5/5

96% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
93/100 no Mettacritic