quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Review: Parasita


Parasita (Parasite - 2019)

O vencedor da Palma de Ouro em Cannes ano passado já acumula em sua prateleira mais de 150 prêmios ao redor do mundo e invejáveis 6 indicações ao Oscar. Parasita é um fenômeno mundial, de crítica e de bilheteria, que flerta com vários gêneros e faz críticas sociais necessárias, mas será que ele é tudo isso mesmo?

Embora seja difícil, não darei spoilers, pois há várias reviravoltas e surpresas interessantes ao longo do filme. A história acompanha duas famílias sul-coreanas de classes sociais completamente diferentes. Uma mora no subúrbio, trabalha dobrando caixas de pizza e mal consegue se alimentar. A outra família, mora em uma mansão e leva uma vida com conforto e muito dinheiro. Os dois mundos se chocam através de uma mentirinha e a história se desenrola à partir daí.



Parasita têm tantas qualidades, que é até difícil escolher uma como a principal, mas o roteiro do filme é muito bem escrito e bem estruturado, que é algo raro de se ver em outro filme nos últimos anos. Todos os personagens são bem construídos e há um realismo grande neles, não há mocinhos e vilões aqui, todos tomam atitudes boas e ruins. 


Outra coisa que o roteiro faz com muita perfeição é mesclar os diferentes gêneros que o filme tem. No começo, o filme flerta entre a comédia e o drama, apresentando os personagens e as diferenças presentes nas duas classes sociais, logo depois, um suspense começa a ser formado, com um clímax bem construído, através de uma trilha sonora excelente e uma fotografia impecável, que entende todos os ambientes internos da mansão e movimenta a câmera com precisão. Lá no terceiro ato, o filme exibe elementos do terror, com maestria, sem nunca deixar de ser um filme dramático. São 4 gêneros no mesmo filme e todos eles são executados com perfeição. 

As críticas sociais são feitas de forma impactante em algumas cenas e sutis em outras, mas elas estão presentes durante o filme todo. A cena da enchente ou a evidência do incômodo dos patrões com o odor que o empregado tem, são exemplos de como as discrepâncias são expostas de ângulos diferentes.


Além da trilha sonora e da fotografia, tem outro elemento técnico que é fundamental em Parasita, que é o design de produção. A casa da família pobre é apertada, suja e está caindo aos pedaços, já a mansão tem cômodos amplos, está sempre limpa e é arejada, os ambientes são bem montados e a direção de arte é excelente.

A direção do Bong Joon-ho une perfeitamente todos os elementos citados acima, ele faz escolhas assertivas na movimentação da câmera, criando clímax, explorando bem os ambientes e consegue arrancar de todo o elenco performances excelentes, explora o roteiro da melhor maneira e de longe, tem a melhor direção do ano.

O elenco inteiro é fabuloso, mas os destaques mesmo são de Song Kang-ho (pai da família pobre) que tem uma performance cheia de sagacidade, carisma e cinismo, que cresce durante o filme. Cho Yeo-jeong (mãe da família rica) está melhor que a Laura Dern e a Jennifer Lopez juntas. Ela tem a personagem mais difícil do filme, já que interpreta uma mulher boba, mas que faz qualquer um gostar dela, além de ter uma carga dramática ótima. Park So-dam (filha da família pobre) surpreende com uma performance cômica descarada. O restante do elenco está realmente muito bom e o prêmio no SAG foi merecido, já que Parasita é um filme de elenco.


Parasita é um daqueles marcos no cinema sabe? É um daqueles filmes que ficam com a gente durante meses, toda vez que eu paro para pensar sobre, lembro de algo novo ou de uma cena marcante. É a junção perfeita de uma direção excelente, com um roteiro bem estruturado e um elenco primoroso.

5.0/5

99% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
96/100 no Metacritic


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