quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Review: Mãe


Mãe (Mother - 2017)

Eu não costumo fazer textos com spoilers, acho completamente desnecessário e sempre atrapalha a experiência cinematográfica de quem vai assistir, mas aqui farei uma exceção. Não tem como escrever sobre Mãe sem dar spoilers da trama, então, caso você ainda não tenha visto o filme, peço que não prossiga. Ainda sim, os spoilers que eu vou dar não são dos acontecimentos do filme, são mais da minha interpretação sobre a proposta do Darren Aronofsky mesmo.

ALERTA DE SPOILERS ABAIXO!

Fui assistir Mãe sem saber nada sobre o filme, vi o primeiro trailer (que é ótimo e não revela nada do filme) e só. Não li as teorias que vários cinéfilos postaram ao longo dessa semana, não li críticas e nem entrevistas do Darren Aronofsky e do elenco. Fugi dos spoilers e fiz bem, pois o filme não é nada daquilo que se pensa.


É importante deixar claro que Mãe não é o tipo redondinho de suspense, ele dá abertura para várias interpretações diferentes, dando espaço para várias ideias e teorias malucas, mas uma coisa se sobrepõe a interpretação pessoal que todos podem fazer sobre o filme: a somatória de suas inegáveis qualidades técnicas.



Darren Aronofsky é um diretor que rema na contra-mão de Hollywood, seus filmes sempre nos fazem pensar, sair de zona de conforto, deixar o óbvio de lado e aí está um dos motivos do público (em geral) não ter curtido Mãe. Vivemos na "era do spoiler" onde cada vez mais os trailers mostram os filmes inteiros, onde cada vez mais as pessoas gostam de ir ao cinema sabendo exatamente o que vai acontecer. Isso é completamente errado.

A premissa é a seguinte: Uma jovem mulher reforma a antiga casa de seu marido escritor, enquanto ele tenta escrever seu próximo livro. Durante um longo bloqueio criativo do escritor, um senhor chega a casa do casal, pensando ser uma pousada e de uma maneira muito estranha, o escritor convida esse senhor para ficar. Logo depois, a esposa desse senhor também chega e fica hospedada na casa do casal. Com o tempo, uma série de eventos completamente inimagináveis vai acontecendo e podemos acompanhar a protagonista entrando em desespero. Os personagens não tem nome, por isso usei esses adjetivos esquisitos para descrever a sinopse.


O filme te coloca pra pensar o tempo todo, vários elementos enigmáticos são inseridos na trama e é importante prestar muita atenção. Várias interpretações diferentes podem ser feitas sobre quem são os personagens, sobre o final e sobre os acontecimentos surreais. Os religiosos mais fervorosos provavelmente não vão gostar do que irão ver, pois Mãe faz várias referências as histórias bíblicas. Caim e Abel, Adão e Eva, Jesus, Deus, criação do mundo, tudo está lá em forma de personagens ou em partes do cenário.

Uma das principais qualidades do filme é a imersão dentro da história proposta por Aronofsky. O tempo todo, ele desliza a câmera na altura do rosto da Lawrence, como uma protagonista absoluta, fazendo com que o público logo crie vínculo com sua personagem e por consequência, tenha as mesmas reações que ela, a medida que a sua casa vai sendo invadida aos poucos. Imersão é a palavra-chave de Mãe.


Além de usar a fotografia sabiamente, o cenário da casa é amplamente explorado por Aronofsky, a edição é ótima, não deixa a gente se perder com os acontecimentos rápidos, os efeitos sonoros também são excelentes e o uso do CGI no terceiro ato é perfeito.

O elenco é incrível e TODOS merecem atenção nas premiações (infelizmente sabemos que não vai rolar). Jennifer Lawrence entrega algo bem diferente do que costumamos ver em suas performances, ela enfrenta todas as nuances de sua personagem, atinge todas as explosões dramáticas ou de fúria, toma pra si o filme e espanta, de tão boa que está. Javier Bardem está assustador, de verdade, suas expressões faciais são ótimas. Michelle Pfeiffer rouba a cena toda vez que aparece, ela tem uma presença em cena que impressiona, sem dúvidas, a melhor atriz coadjuvante do ano. O restante do elenco está ótimo, uma pena Kristen Wiig aparecer tão pouco.


Mãe é uma experiência cinematográfica imersiva e intensa, que tem todas as qualidades técnicas e emocionais para ser considerado uma obra-prima, ainda que essa palavra seja desgastada, é a palavra que mais define o filme.

5.0/5

67% de críticas positivas no Rotten Tomatoes
74/100 no Mettacritic





2 comentários:

  1. Agora eu estou mais curiosos ainda pra entender todas as possíveis interpretações do filme!

    Ainda to boiando sobre a imagem representativa da personagem de Lawrence...




    Eu preciso desse filme pra ontem...
    Texto ótimo :)

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